15/07/2012

Moment of Surrender


Eu tinha planos. Minha vida estava caminhando bem. Eu estava contente. Mas carregado de mágoas do passado das quais nunca tinha lidado. Perdas que nunca tinha superado. Eu buscava aquele turbo para minha auto-estima e minha auto-aceitação. Eu acreditava que para eu me aceitar eu precisava encontrar alguém que me aceitasse antes. Ou seja, eu estava ferrado. E quando estamos bem, encontramos alguém que está bem. Quando estamos ferrados encontramos alguém tão ferrado quanto. Eu a encontrei, uma garota coreana de 25 anos. Ela estava realmente ferrada, sendo julgada por todos e expulsa da escola do qual estudávamos. Eu queria continuar com ela então propus irmos ao Brasil. Ela aceitou, mas semanas antes descobri ela que mantinha um relacionamento com um homem 30 anos mais velho que ela. Aquele foi apenas a primeira cicatriz que esse pobre coração ganhou. Eu a perdoei, pois achava que precisava dela. Exigi que revelasse à verdade ao sujeito e cortasse contato com ele. Ela enviou o e-mail na minha frente, para um endereço que não era o dele, pois ele nunca recebeu a mensagem.

Viemos ao Brasil. Eu a introduzi na minha família. Fui seu intérprete. A provi de casa, comida, roupas, conforto necessário... Pagava 100% das contas. A levei para fazer cursos. Dei um gato a ela para fazê-la companhia enquanto eu trabalhava. Dei a ela um livro em branco e a cada dia escrevia lá uma qualidade sua para que sua auto-estima aumentasse. Deixei meus amigos para dar 24 horas de atenção a ela. A protegi de todo perigo e de qualquer um que ficasse contra ela. Corria na farmácia às 2 da manhã quando ela sentia alguma dor de cabeça ou tosse. Ia com ela às 5 da manhã no posto médico para fazer exames de doenças que ela só tinha em sua imaginação.
Deixei de lado minha vida social, minha auto-estima, meu cuidado com minha própria saúde física e mental, minha família, meus hobbies, meus gostos e meus sonhos.
Enquanto isso ela me julgava incompetente, inconfiável financeiramente, irresponsável e sem futuro. Ao invés de se introduzir na minha família, tinha inveja de mim por tê-los quando preciso.
Mesmo assim, no dia 21 de Julho de 2010, me casei com ela para que pudesse permanecer no Brasil e adquiri visto permanente que a permitiria trabalhar legalmente. Ela o fez mas não gostou do fato de se casar com alguém tão incompetente, ignorante e sem futuro como eu.

No final daquele ano, ela perdeu o emprego na escola de idiomas do qual trabalhava. Ao invés de aceitar minhas sugestões e minha ajuda para trabalhar na empresa onde meu irmão trabalha ganhando um salário consideravelmente ótimo, resolveu que a perda daquele emprego implicava uma aversão à cidade toda. Queria se mudar para São Paulo, a cidade mais violenta do Brasil. Sem me consultar, procurou emprego pela internet e foi a uma entrevista. Conseguiu a vaga e não perguntou minha opinião sobre aquilo, apenas aceitou. Sabendo que minha opinião de nada valia eu fiz o que podia fazer: acompanhá-la para garantir sua segurança e salvar nosso relacionamento. Deixei meu emprego onde acabara de ser promovido a gerente e fui para São Paulo. Ela exigiu de mim que eu encontrasse primeiro um apartamento para depois procurar emprego. Entre as exigências estavam a ordem de que este novo lar fosse a 5 minutos de distancia a pé até alguma estação de metrô da linha verde. Não poderia ser perto da linha azul, nem vermelha, nem cinza nem amarela. Tinha que ser da verde. Não poderia ser 6 minutos de distancia da estação, tinha que ser ATÉ 5, não mais do que isso. Este apartamento DEVERIA ser mobiliado e não poderia ser antigo. Também não poderia ser num andar muito alto.
    Seguindo sua lista de exigências encontrei um apartamento do qual eu simplesmente não sabia como faria para pagar o aluguel. O lugar mais barato que encontrei que se encaixasse em suas exigências custava um braço e uma perna. Encontrei um trabalho numa operadora de telefonia móvel. Um emprego do qual ela julgava medíocre e fazia questão de me culpar por não ganhar o mesmo salário que ela. 


Com meu salário eu deveria pagar o aluguel exorbitante, as contas da casa, comprar comida, levá-la para comer fora, levá-la ao cinema, levar para viajar de vez em quando, e dar presentes a ela. Para manter este padrão de exigências, fui fazendo intermináveis empréstimos em praticamente todo banco que existe no Brasil. Hoje sou até jurado de morte por estes bancos. Mesmo assim ela achava aquela vida miserável e infeliz pois eu não poderia prove-la do conforto que ela julgava adequado a seu padrão. Eu não poderia levá-la a viagens por toda a America. Eu não poderia pagar um apartamento maior. Com isso, eu era um merda. Em momentos de conflito, levava até murros dela.
Ela me convenceu de que eu era um merda. Convenceu-me de que eu não prestava, que era um péssimo marido, um pobre, um nada. Minha auto-estima não era baixa.... ela simplesmente não existia mais. Ela era minha musa e eu era uma partícula de poeira. Esqueci quem sou, desacreditei em qualquer elogio que recebi durante minha vida. Odiava a mim mesmo por não suprir as necessidades dela.
             Para tornar nossa comunicação melhor, aprendi o idioma dela. Duas vezes por semana eu saia exausto do trabalho as 6 da tarde para apahar o metrô lotado da hora do rush até o bairro do Bom Retiro, para estudar o coreano.
Ela disse que iria visitar Buenos Aires e não queria esperar 2 semanas até eu ter folga para ir com ela. Foi sozinha. Depois disso ainda foi para Curitiba.
Reservou uma viagem de 1 mês para o deserto do Atacama, no Chile, para participar do Amazing Race do Discovery Channel. Não me consultou sobre isso. Disse que voltaria um dia depois do meu aniversário. Eu senti que não valia 1 centavo para ela. Senti que não valia 1 centavo para este mundo.
Terminei o relacionamento porque um dia conversei com meu pai em um sonho e poucos dias conversei com outra pessoa do “outro lado”. Ele disse que eu teria uma vida infeliz ao lado dela. Que ela me trairia em 2012. Que eu morreria por causa dela. Que eu não faria nada que deveria fazer na minha vida por causa dela.
Isso foi no começo de Novembro de 2011. Eu conversei com ela e contei que iria embora. Ela demonstrou indiferença. Eu ainda propus levá-la a praia como havia prometido, ao parque de diversões em outra cidade e passar o Natal e Ano Novo com ela para que não ficasse sozinha naquelas datas. No Natal ela brigou comigo porque dei a ela uma panela elétrica de 150 reais. Disse que sou estúpido, pois ela não usaria por muito tempo. Eu ganhei um jogo de canetas femininas de gel, uma mochila que ela ganhou no trabalho e um lápis. Ela não gastou 1 centavo. Pouco antes do Ano Novo eu estava tão nervoso que comecei a ter gastrite nervosa com dores insuportáveis no estômago, vômito e muita febre. Ela ignorava aquilo e não queria ir à farmácia para mim. Fui à farmácia sozinho mal podendo me mover e vomitei no meio do caminho.
Além disso, descobri que ela mentiu sobre ter cortado relações com seu amante de 56 anos. Ela vinha mantendo contato com ele desde aquela época na Inglaterra. Eles se tratavam como namorados. Ele sempre mandou dinheiro e presentes para ela. Ela sempre me disse que eram da mãe e da irmã. Ela contava sua vida comum à ele, sem me incluir. Como se vivesse sozinha.

Fui embora no dia 2 de Janeiro de 2012.

Mantivemos contato por telefone pelos próximos quatro meses. Ela me ligaria chorando dizendo que se arrependera por tudo que fez. Ligava-me todos os dias e eu conversava com ela com paciência. Tentava ajudá-la a não se sentir sozinha ou deprimida. Dizia que podia ligar quando quisesse. Ligava para ela para assegurar que estava bem. Quando ela conheceu um coreano e começou a se relacionar com ele, não quis mais falar comigo. Não me contou sobre o rapaz. Apenas me ofendia pelo telefone e cortava contato. Apagou sua conta do Skype, Facebook, Orkut, MSN, Yahoo Messenger...

No dia 23 de Junho de 2012 veio a minha cidade para fazermos o divorcio. Eu propus que ficasse hospedada na minha casa. Gastei quase 100 reais no supermercado para comprar comidas que ela gosta. A levei em restaurantes. A tratei como uma hospede 5 estrelas. Não briguei, não julguei, não ataquei. Propus mantermos amizade. A elogiei e disse tudo que ela tem de bom. A beijei, abracei milhares de vezes. Disse que se ela tentasse melhorar certas coisas, seria uma pessoa ainda mais fantástica. Ela disse aceitar mas no momento que embarcou no ônibus de volta à São Paulo jogou seu sim card fora e apagou sua conta de e-mail. Encerrou as últimas 2 formas de termos qualquer contato. Logo depois descobri sobre seu namorado coreano e que ela irá para a Inglaterra em Setembro para passar uma temporada com seu amante de 56 anos.
Eu fiquei mal.... muito mal. Comecei a perder fome, a vontade de ver pessoas, de trabalhar, de sair da cama. Tinha flashbacks dos momentos bons. Ficava me culpando, procurando os momentos onde errei. Sentia-me jogado fora. Fiquei doente os amigos sumiram e estive a ponto de perder o emprego.

Mas o momento que decidi melhorar foi crucial. Algumas pessoas auxiliaram e auxiliam muito nisso. Deram-me um empurrão, me chacoalharam e disseram “Acorda, Julian!”
Comecei a reler este blog e relembrar quem eu era. Senti falta das minhas idéias, do meu modo de viver, da minha inteligência, dos meus hobbies, de escrever, de conversar, de parecer doido, de ser interessante para alguém, de descobrir coisas...
Então aqui vou eu novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário