31/01/2007

Tão Longe, Tão Perto

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ser e ainda não é.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não sentiu. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa nossa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores possíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixo que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo me impeça de tentar.
Confie no destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que duvidando...

30/01/2007

Esperança, Compreensão, Sentimento

2006 foi ano que percebi como tudo mudou.
2006 foi ano que mais pude entender o mundo ao meu redor.
2006 foi ano que conheci mais pessoas.
2006 foi ano que morei com mais pessoas.
2006 foi ano que mais encontrei motivos para me sentir feliz, mesmo assim ainda preciso de mais.
Em 2006 bebi mais do que qualquer ano.
Em 2006 não vi meus pais tanto quanto eu queria.
Em 2006 lamentei por ter me afastado demais da minha família.
Em 2006 encontrei novos motivos para acreditar que amizades verdadeiras existem, sim.
Encontrei a tristeza ao me dar conta que as coisas não serão como há 10 anos e ainda tento me livrar disto.
Usei os extremos de mim, e isso trouxe conseqüências irredutíveis.
Em 2006 encontrei pessoas que não via há mais de 10 anos.
Em 2006 tentei enxergar o melhor deste planeta, mesmo vendo apenas coisas que me entristecem.
Em 2006 não pude encontrar uma pessoa que eu pudesse depositar meus melhores sentimentos, e comecei a me convencer que o percurso de vida padronizado não se aplica a todos.
Pude compreender meu objetivo aqui, e sei que ao completá-lo terei cumprido meu tempo, e em 2006 tentei me convencer que não pode ser tão difícil.
Em 2006 encontrei pessoas para preencher um espaço, mas a vida não esperava que eu exigisse tanto.
Senti medo
Senti nostalgia
Senti-me bem por conhecer melhor alguém que sempre esteve próximo, mas senti por não encontrar meu lugar ao lado de outra.
Senti-me grato por conhecer uma pessoa nova, que me trouxe motivos para acreditar novamente nos meus sentimentos.
Em 2007 quero compreender o que me aflige;
Acreditar no amor, alcança-lo, torna-lo minha arma a favor de quem amo;
Percorrer cada dia sabendo que esta é minha vida e devo apenas saber usá-la para me adaptar ao ambiente que me cerca;
Quero você pra entregar o que melhor posso ter, para encontrar a razão;
Para me fazer perceber que a vida sem você é o mesmo que não viver.

18/01/2007

E o Bicho Ganha!


São 2 da manhã e uma lagartixa entra pela janela da sala, após escalar fervorosamente a parede até meu apartamento, no primeiro andar. Fui expulso da sala pelo peçonhento bicho, jurando vingança. Corri até o banheiro e peguei o Rodozol, e a escovinha de privada (única arma a vista). Persigo o infeliz por todo lugar, incrível como eles conseguem se infiar em cantos intocáveis ao alcance humano. Fui até seu refúgio atrás do rack numa tentativa mal planejada de extermínio, onde usei spray de barata. Ela saiu mais rapida do que antes, correndo até o banheiro. Foi lá que descarreguei o vidro do spray, levantando uma fumaça mortal. Espero não ter que enfrentar um protesto sindical por este erro, mas com certeza meu pulmão um-ponto-zero vai reclamar... e meu nariz zero-ponto-zero nem vai registrar o estrago. Assim estou escrevendo aqui, ja no meu serviço, enquanto em casa a diluição da nuvem pairante sob minha moradia prossegue . Enquanto isto fico aqui pensando para que bosta servem estes bichos... por mais determinista que eu me sinta não consigo alcançar os desígnios de Deus para ter projetado este bicho. Talvez seja a reserva de combate e extermínio do verdadeiro bicho: o inutilis-sapiens. A barata sim... realmente tem um propósito oculto com aquela aparência guerreira... eu descobri isto durante algumas exumações de parentes.

16/01/2007

Morar sozinho

“aquela antiga boa sensação de... estar onde ninguém pode alcançá-lo”

Morar sozinho é esquecer uma panela de Miojo no fogão. É freqüentar o endereço dos fantasmas. É abrir uma lata de sardinha às duas e meia da madruga. É, no meio do dia, sentir vontade de telefonar para si mesmo. Morar sozinho é foda, mas é legal.

Morar sozinho é observar a fruteira vazia. É enganar a si mesmo na hora de acordar (só mais 15 minutos, só mais meia hora, só mais uma horinha). É dormir e acreditar que tem mais gente em casa. É receber uma ligação da síndica. Morar sozinho é duro. Estranha arte, a de morar sozinho. Arte dos adiamentos eternos e das conversas com a geladeira (também vazia).

Assim é morar sozinho: acordar, lavar o rosto, escovar os dentes, tomar duas Neosaldinas, sair para o mundo e estar sozinho no mundo. Quando em casa, fingir que não tem ninguém. A campainha quebrada há mais de nove meses. O sono diante da TV ligada, um copo d´água pela metade, um cordão de sapato feito cobra no tapete. Uma cama em desalinho. A TV ligada (e o filme continua dentro da cabeça).

Morar sozinho é ler o jornal, de manhã, com profunda desatenção. É voltar no meio da noite e não encontrar ninguém em casa. É pedir uma pizza inexistente e uma Coca “normal” de 600. É ver que o entregador de lanches ficou de cabelos brancos.

Morar sozinho é sentir falta do amigo imaginário da infância (que hoje deve estar casado e com três filhos, futebol aos sábados, restaurante aos domingos). É viver, todo dia, as últimas cenas de 2007.

Morar sozinho é perder o sono por coisas idiotas (do tipo: “deveríamos vender Roraima e Rondônia pra França”). É esperar o fim de semana, o vento leve e o silêncio respeitoso das manhãs de domingo, quando não estou sozinho. É atender a um telefone do pai às 7 e meia da matina.

Morar sozinho é dar nome aos objetos, nome e sobrenome. É ter problemas com as pombas que insistem em fazer ninho à janela. É ter uma coleção de miniaturas e uma infinidade de livros não-lidos. É tomar banho ouvindo Beatles. Morar sozinho é exercitar a loucura de nascer todos os dias no tempo. É caminhar entre os meses como quem chuta pedras no chão. É legal, mas é foda.

E a campainha – a campainha continua quebrada.