18/11/2012

Os trilhos de Hellebaek.

Floresta de Hellebæk- photo by Julian Criscione

   Eu estou sempre a me perguntar de quais formas as pessoas escapam da bagunça do mundo, quando se sentem sufocadas. Eu as vejo fazendo isso das mais variadas formas. Algumas buscam esse escape se divertindo a noite toda na balada. Outros, na prática de algum esporte. Alguns o fazem consumindo drogas, outros com meditação e há os que buscam a fuga do mundo caótico na lavagem-cerebral distração da TV. Eu tenho uma origem um tanto quanto peculiar e isso resultou no desenvolvimento de uma mente criativa e imaginativa. Eu sempre tive um mundinho próprio dentro de mim. Sabe aquela famosa frase "você acha que o mundo gira ao seu redor?'. Bom, no meu caso eu acho sim. O meu mundo gira sim ao meu redor e de acordo com os pilares de lembranças e situações.

   Na época que eu morava em Hellebæk, na Dinamarca, trabalhava e morava num internato para crianças e adolescentes com problemas sociais. Além de ter que lidar com as situações de resoluções de conflitos destas crianças eu tinha que lidar com a pressão da arrecadação de dinheiro para o meu projeto na Africa, cobrança de superiores e etc.

   Ao lado da escola havia uma grande floresta. Em cada estação do ano ela adquiria uma tonalidade de grande beleza. O período do inverno era meu favorito. Um manto branco de neve caia sob toda a vegetação, o lago congelava e você podia andar sob ele. O frio fazia com que os pássaros e animais se escondessem em seus lares em busca de aquecimento e conforto, e com isso o silêncio pairava sob o lugar. Os trilhos do trem sobressaíam sob o chão branco, ganhando destaque. Parecia uma carta em branco estendida sob o chão por quilômetros a perder de vista. O pequeno cemitério que pareciam ter saído de um filme do Tim Burton não poderia colocar medo em pessoal alguma, pois as flores que lutavam contra o frio congelante insistiam em mostrar suas cores sob os caminhos cobertos de neve. Aquela era minha fuga. Quando eu sentia que o mundo estava a querer colocar barras à minha volta, eu procurava a liberdade na natureza e naquela floresta. A paz que ela me proporcionava era transcendente.
   Eu sempre gostei de estar na natureza. E aquele período em Hellebæk me fez desenvolver ainda mais esta minha relação com a palavra liberdade. Meses depois, quando vivi na África, tive a grande chance de saborear ainda mais estes momentos na natureza aberta.

30/10/2012

Beautiful Day

E lá estava eu pronto para mais um dia. Era ainda cedo porém o sol já queimava sob toda a África e invadia a janela do meu quarto. Tomei uma xícara de café, peguei meu material e abri a porta da frente da casa. Eu já podia ver as crianças todas na escolinha, a cerca de 50 metros da minha casa. Elas provavelmente tinham uma visão melhor que a minha pois de súbito já começavam a gritar “Titio! Titio!”.
Aquela escolinha era de propriedade nossa, Instrutores de Desenvolvimento. Cada um de nós fez um up-grade nela usando nosso próprio dinheiro já que a ONG insistia em ignorar a existência da escolinha e das crianças.
Fui andando em direção à escolinha porém as crianças não esperavam! Corriam em minha direção e me acompanhavam segurando minhas mãos. Disputavam e brigavam para ver quem seguraria minhas mãos e as que não conseguiam simplesmente seguravam na barra da minha bermuda.
            Nos primeiros três dias sozinho com as crianças eu mal sabia o que fazer. Não tinha experiência nenhuma com crianças tão pequenas. Algumas mal sabiam andar direito ainda. Porém com o tempo comecei a ter tanto carinho por ela que sentia como se fossem meus filhos!
            E como todo pai (mas nenhum assume) eu tinha um favorito. Era um pequenino que não largava da minha perna. Ele devia ter menos de três anos. Infelizmente não me lembro do seu nome, mas você pode vê-lo no início e final do vídeo abaixo. Segurando minha perna, como sempre.


            Esse garotinho era um santo. Não chorava, aliás mal falava (o que era bom já que eu não entendia o idioma deles, Emakuwa), tinha cara de dó e era muito bonzinho. Eu ficava na frente da “sala” explicando a matéria e ele insistia em ficar lá na frente, comigo. E na hora de ir embora seria de se supor que ele choraria e não iria querer ir embora, mas pelo contrário: me dava tchau dizendo “Tatá” (significa “oi” e “tchau” em Emakuwa) e pegava seu rumo, de mão dadas com alguma criança maior. Quem ficava triste era eu!

Na aldeia de Bilibiza, no sudoeste africano, as crianças viviam em condições de partir o coração de qualquer um. As condições de higiene eram propícias para se contrair uma doença a qualquer momento. Alguns deles já não tinham pais, não tinham acesso à água limpa ou comida com nutrientes suficientes. Eu tinha mais medicamentos na minha casa do que o hospital de Bilibiza. O hospital só tinha um médico e duas enfermeiras. As pessoas esperavam horas na fila e não havia sequer Paracetamol. Que dirá algum remédio para tratar a Malária. Nem pensar. As crianças as vezes chegavam na escolinha com a cara muito suja e por isso eu sempre andava com um rolo de lenço no bolso. Um dia o pequenino chegou com o nariz escorrendo, a cara suja e a cabeça vermelha de terra. Provavelmente havia tropeçado e caído no caminho. Eu deixei as crianças brincando e enquanto isso o levei para minha casa. Lavei a cabeça e o rosto dele e o fiz assuar o nariz para limpar. Resolvi dar para ele um brinquedo de Kinder Ovo, que eu tinha num pote. Ele adorou mas foi um erro meu pois assim que retornamos à escolinha todas as outras crianças viram o brinquedo e queriam um também.
Pouco antes da minha partida de Bilibiza, 4 meses depois, eu já sentia pela perda daquelas crianças e do pequenino. Eu queria que elas jamais se esquecessem de mim. No dia da minha despedida comprei suco, pirulitos e montei um daqueles saquinhos de festa de aniversário com o pirulito, balas e um brinquedo de Kinder Ovo dentro. O pequenino não estava lá. Pela tarde fui à aldeia saber sobre ele. Perguntei para as pessoas e me deram direções até onde ele vivia. Cheguei lá com algumas sacolas com arroz, legumes, farinha de mandioca e uma galinha (viva). Encontrei a mãe na parte de trás da casa, ela preparava pão. Apresentei-me e ela não entendeu uma só palavra. Nisso eu já estava rodeado de crianças curiosas. Entreguei o presente a ela e falei que era o “titio” e perguntei pelo nome de seu filho. Duas das crianças foram buscá-la. Voltaram com o pequenino e ele parecia muito contente em me ver, mas tímido. Sentei-me no chão e mostrei a câmera fotográfica para as crianças e elas abriram um sorriso enorme, pois adoravam ver coisas tecnológicas. Mostrei meu MP3 para meu pequeno aluno e logo ele se debruçou sob mim se rendendo à curiosidade. Mostrei para ele algumas músicas e sons do aparelho e ele parecia muito feliz. Tirei algumas fotos (que perdi depois) e disse que ia embora. Aí sim ele se pôs a chorar muito. As outras crianças tiveram que segurá-lo enquanto eu partia (diga-se de passagem, também chorando).
Foi um dia triste, mas inesquecível. Encontrei meu assistente pelo caminho de volta. Ele me auxiliava na escolinha trazendo as crianças todas as manhãs e traduzindo o que eu precisasse falar para elas. Ele viu minha tristeza e me disse que aquelas crianças nunca iriam se esquecer de mim. Aquilo me deixou muito emocionado. Todo o caminho que percorri nos últimos anos se resumia àquele momento. Eu queria muito ir para a África para fazer a diferença na vida de algumas crianças. Eu queria trabalhar com crianças. Eu precisava daquele desafio e considero que venci. Aquele menino era para mim o símbolo do meu aprendizado com toda aquela experiência. Eu aprendi mais com ele do que ele comigo.
E a jornada continua, sempre....


"Into the heart of a child
I stay a while
But I can go there.

Into the heart of a child
I can smile
I can go there.

Into the heart, into the heart of a child
I can go back
I can stay awhile.
Into the heart."
Into the Heart - U2 (1981)

29/10/2012

What If...


                Em certos momentos me pego pensando “E se...”. É aí que crio um verdadeiro universo paralelo com a história que forma na minha cabeça com todas as conseqüências daquele caminho que não tomei, daquela opção que não escolhi.
                E assim cometo novamente o erro de achar que tudo poderia ter sido mais fácil, mas simples, ou melhor. Afinal aquelas situações desagradáveis, tropeços, tristezas e similares poderiam não ter acontecido? Será que elas não estavam destinadas a acontecer independentemente da minha escolha? Não são acordos pré-firmados? Eu acredito piamente que sim e por isso sei que estes meus momentos de “E se...” são absolutamente desnecessários.

                Até onde a dor é ruim? Ou, melhor ainda: a partir de onde ela é ruim? Não é a dor que nos faz ver as coisas com um olhar mais analítico e cuidadoso? Não é ela que nos torna mais fortes, depois de todos aqueles momentos de lágrimas e/ou desolação? Para onde foi aquela pessoa que muitos diziam que ele vivia num mundo próprio? Levou uns belos tapas na cara e ficou com a face roxa! Os tapas foram para acordá-lo e mostrar que este mundo não é lá tão gentil.

                Agora preciso apenas para de pensar “E se..” quando agito meu punho fechado para o céu. Enquanto isso espero por alguém que possa fazer o oposto dos tapas na cara: que venha, dê um tapinha no meu ombro e diga que as pessoas não são tão maldosas assim e que o ser humano é apenas uma raça que age como uma criança mimada.

10/08/2012

O Sonho Acabou!




















 O ser humano é um bicho engraçado. Ama, odeia, elogia, xinga, faz o bem, faz o mal, é curioso, é orgulhoso, é apto ao esforço mental mas apela ao apelo físico puramente por aceitação social. E a gente adora idolatrar inconscientemente as musas e "musos" que idealizamos. Se por acaso encontramos álguem que se assemelhe àquela concepção de ideal, agarramos com toda a força dos braços chamando de MINHA ou MEU. E sermos chamados da mesma maneira nos dá aquele prazer enorme, aquela sensação de estar completo.

   Mas por que vivemos acreditando que temos uma peça faltando? Por que se estamos com a pessoa que ilusóriamente amamos dizemos que estamos completos? Quando solteiros éramos incompletos? A vida na sociedade moderna é baseada na imagem e nas mensagens que as imagens nos passam. Eu, assim como o resto do mundo, sou também vítima de tal pensamento bobo "Puxa, preciso encontrar aquela que me complete!". Estou na condição de ser humano, não estou? Então estou sujeito a tais influências sociais que me fazem pensar assim.

     Porém, os breves momentos de real lucidez me trazem à tona questões como a mencionada acima. Por que sempre nos rebaixamos? Por que acreditamos que somos menos do que completos? Por que eu vivo dia após dia esperançoso por encontrar álguem do qual me complete e eu possa a completar? Por que não estar apto à cruzar o caminho de um novo amor ao invés de buscá-lo?

   Preciso praticar um certo auto-ensinamento: estar com álguem deve significar compartilhar o que está completo, e não ser completado; deve significar ensinar e aprender e não idolatrar o ego cheio de orgulho baseado em falsas concepções de beleza. A beleza da alma se esconde. E olha... ela se esconde muito bem! Para não se permitir ser encontrada por quem não tenha forças o suficiente para procurar em cada centímetro de palavras ditas, escritas, pegadas deixadas, ações realizadas e pensamentos orbitados. Quem realmente ama tem força de vontade de sobra para encontrar a beleza da alma nas coisas mencionadas acima. Tem paciência ampla o suficiente para não tirar conclusões incompletas tidas como perfeição idealizada. O olhar tido como revelador é meramente uma fresta aberta. Aquele que realmente encontra revelações no olhar da pessoa amada só as encontra de fato após a igualmente paciente e persistente busca. Entender a língua dos sinais do coração de alguem é como aprender um idioma raro, uma língua morta. Sendo apenas permitido o aprendizado após ter vivenciado certas experiências, ou tendo um coração analítico e consideravelmente próximo de ser puro.

   Aprender a língua do coração é uma verdadeira vitória, tendo como recompensa o amor honesto e gratificante.

   Estarei eu pronto para tal? Terei eu a chance de fazê-lo durante minha existência sob este solo tortuoso?

15/07/2012

Moment of Surrender


Eu tinha planos. Minha vida estava caminhando bem. Eu estava contente. Mas carregado de mágoas do passado das quais nunca tinha lidado. Perdas que nunca tinha superado. Eu buscava aquele turbo para minha auto-estima e minha auto-aceitação. Eu acreditava que para eu me aceitar eu precisava encontrar alguém que me aceitasse antes. Ou seja, eu estava ferrado. E quando estamos bem, encontramos alguém que está bem. Quando estamos ferrados encontramos alguém tão ferrado quanto. Eu a encontrei, uma garota coreana de 25 anos. Ela estava realmente ferrada, sendo julgada por todos e expulsa da escola do qual estudávamos. Eu queria continuar com ela então propus irmos ao Brasil. Ela aceitou, mas semanas antes descobri ela que mantinha um relacionamento com um homem 30 anos mais velho que ela. Aquele foi apenas a primeira cicatriz que esse pobre coração ganhou. Eu a perdoei, pois achava que precisava dela. Exigi que revelasse à verdade ao sujeito e cortasse contato com ele. Ela enviou o e-mail na minha frente, para um endereço que não era o dele, pois ele nunca recebeu a mensagem.

Viemos ao Brasil. Eu a introduzi na minha família. Fui seu intérprete. A provi de casa, comida, roupas, conforto necessário... Pagava 100% das contas. A levei para fazer cursos. Dei um gato a ela para fazê-la companhia enquanto eu trabalhava. Dei a ela um livro em branco e a cada dia escrevia lá uma qualidade sua para que sua auto-estima aumentasse. Deixei meus amigos para dar 24 horas de atenção a ela. A protegi de todo perigo e de qualquer um que ficasse contra ela. Corria na farmácia às 2 da manhã quando ela sentia alguma dor de cabeça ou tosse. Ia com ela às 5 da manhã no posto médico para fazer exames de doenças que ela só tinha em sua imaginação.
Deixei de lado minha vida social, minha auto-estima, meu cuidado com minha própria saúde física e mental, minha família, meus hobbies, meus gostos e meus sonhos.
Enquanto isso ela me julgava incompetente, inconfiável financeiramente, irresponsável e sem futuro. Ao invés de se introduzir na minha família, tinha inveja de mim por tê-los quando preciso.
Mesmo assim, no dia 21 de Julho de 2010, me casei com ela para que pudesse permanecer no Brasil e adquiri visto permanente que a permitiria trabalhar legalmente. Ela o fez mas não gostou do fato de se casar com alguém tão incompetente, ignorante e sem futuro como eu.

No final daquele ano, ela perdeu o emprego na escola de idiomas do qual trabalhava. Ao invés de aceitar minhas sugestões e minha ajuda para trabalhar na empresa onde meu irmão trabalha ganhando um salário consideravelmente ótimo, resolveu que a perda daquele emprego implicava uma aversão à cidade toda. Queria se mudar para São Paulo, a cidade mais violenta do Brasil. Sem me consultar, procurou emprego pela internet e foi a uma entrevista. Conseguiu a vaga e não perguntou minha opinião sobre aquilo, apenas aceitou. Sabendo que minha opinião de nada valia eu fiz o que podia fazer: acompanhá-la para garantir sua segurança e salvar nosso relacionamento. Deixei meu emprego onde acabara de ser promovido a gerente e fui para São Paulo. Ela exigiu de mim que eu encontrasse primeiro um apartamento para depois procurar emprego. Entre as exigências estavam a ordem de que este novo lar fosse a 5 minutos de distancia a pé até alguma estação de metrô da linha verde. Não poderia ser perto da linha azul, nem vermelha, nem cinza nem amarela. Tinha que ser da verde. Não poderia ser 6 minutos de distancia da estação, tinha que ser ATÉ 5, não mais do que isso. Este apartamento DEVERIA ser mobiliado e não poderia ser antigo. Também não poderia ser num andar muito alto.
    Seguindo sua lista de exigências encontrei um apartamento do qual eu simplesmente não sabia como faria para pagar o aluguel. O lugar mais barato que encontrei que se encaixasse em suas exigências custava um braço e uma perna. Encontrei um trabalho numa operadora de telefonia móvel. Um emprego do qual ela julgava medíocre e fazia questão de me culpar por não ganhar o mesmo salário que ela. 


Com meu salário eu deveria pagar o aluguel exorbitante, as contas da casa, comprar comida, levá-la para comer fora, levá-la ao cinema, levar para viajar de vez em quando, e dar presentes a ela. Para manter este padrão de exigências, fui fazendo intermináveis empréstimos em praticamente todo banco que existe no Brasil. Hoje sou até jurado de morte por estes bancos. Mesmo assim ela achava aquela vida miserável e infeliz pois eu não poderia prove-la do conforto que ela julgava adequado a seu padrão. Eu não poderia levá-la a viagens por toda a America. Eu não poderia pagar um apartamento maior. Com isso, eu era um merda. Em momentos de conflito, levava até murros dela.
Ela me convenceu de que eu era um merda. Convenceu-me de que eu não prestava, que era um péssimo marido, um pobre, um nada. Minha auto-estima não era baixa.... ela simplesmente não existia mais. Ela era minha musa e eu era uma partícula de poeira. Esqueci quem sou, desacreditei em qualquer elogio que recebi durante minha vida. Odiava a mim mesmo por não suprir as necessidades dela.
             Para tornar nossa comunicação melhor, aprendi o idioma dela. Duas vezes por semana eu saia exausto do trabalho as 6 da tarde para apahar o metrô lotado da hora do rush até o bairro do Bom Retiro, para estudar o coreano.
Ela disse que iria visitar Buenos Aires e não queria esperar 2 semanas até eu ter folga para ir com ela. Foi sozinha. Depois disso ainda foi para Curitiba.
Reservou uma viagem de 1 mês para o deserto do Atacama, no Chile, para participar do Amazing Race do Discovery Channel. Não me consultou sobre isso. Disse que voltaria um dia depois do meu aniversário. Eu senti que não valia 1 centavo para ela. Senti que não valia 1 centavo para este mundo.
Terminei o relacionamento porque um dia conversei com meu pai em um sonho e poucos dias conversei com outra pessoa do “outro lado”. Ele disse que eu teria uma vida infeliz ao lado dela. Que ela me trairia em 2012. Que eu morreria por causa dela. Que eu não faria nada que deveria fazer na minha vida por causa dela.
Isso foi no começo de Novembro de 2011. Eu conversei com ela e contei que iria embora. Ela demonstrou indiferença. Eu ainda propus levá-la a praia como havia prometido, ao parque de diversões em outra cidade e passar o Natal e Ano Novo com ela para que não ficasse sozinha naquelas datas. No Natal ela brigou comigo porque dei a ela uma panela elétrica de 150 reais. Disse que sou estúpido, pois ela não usaria por muito tempo. Eu ganhei um jogo de canetas femininas de gel, uma mochila que ela ganhou no trabalho e um lápis. Ela não gastou 1 centavo. Pouco antes do Ano Novo eu estava tão nervoso que comecei a ter gastrite nervosa com dores insuportáveis no estômago, vômito e muita febre. Ela ignorava aquilo e não queria ir à farmácia para mim. Fui à farmácia sozinho mal podendo me mover e vomitei no meio do caminho.
Além disso, descobri que ela mentiu sobre ter cortado relações com seu amante de 56 anos. Ela vinha mantendo contato com ele desde aquela época na Inglaterra. Eles se tratavam como namorados. Ele sempre mandou dinheiro e presentes para ela. Ela sempre me disse que eram da mãe e da irmã. Ela contava sua vida comum à ele, sem me incluir. Como se vivesse sozinha.

Fui embora no dia 2 de Janeiro de 2012.

Mantivemos contato por telefone pelos próximos quatro meses. Ela me ligaria chorando dizendo que se arrependera por tudo que fez. Ligava-me todos os dias e eu conversava com ela com paciência. Tentava ajudá-la a não se sentir sozinha ou deprimida. Dizia que podia ligar quando quisesse. Ligava para ela para assegurar que estava bem. Quando ela conheceu um coreano e começou a se relacionar com ele, não quis mais falar comigo. Não me contou sobre o rapaz. Apenas me ofendia pelo telefone e cortava contato. Apagou sua conta do Skype, Facebook, Orkut, MSN, Yahoo Messenger...

No dia 23 de Junho de 2012 veio a minha cidade para fazermos o divorcio. Eu propus que ficasse hospedada na minha casa. Gastei quase 100 reais no supermercado para comprar comidas que ela gosta. A levei em restaurantes. A tratei como uma hospede 5 estrelas. Não briguei, não julguei, não ataquei. Propus mantermos amizade. A elogiei e disse tudo que ela tem de bom. A beijei, abracei milhares de vezes. Disse que se ela tentasse melhorar certas coisas, seria uma pessoa ainda mais fantástica. Ela disse aceitar mas no momento que embarcou no ônibus de volta à São Paulo jogou seu sim card fora e apagou sua conta de e-mail. Encerrou as últimas 2 formas de termos qualquer contato. Logo depois descobri sobre seu namorado coreano e que ela irá para a Inglaterra em Setembro para passar uma temporada com seu amante de 56 anos.
Eu fiquei mal.... muito mal. Comecei a perder fome, a vontade de ver pessoas, de trabalhar, de sair da cama. Tinha flashbacks dos momentos bons. Ficava me culpando, procurando os momentos onde errei. Sentia-me jogado fora. Fiquei doente os amigos sumiram e estive a ponto de perder o emprego.

Mas o momento que decidi melhorar foi crucial. Algumas pessoas auxiliaram e auxiliam muito nisso. Deram-me um empurrão, me chacoalharam e disseram “Acorda, Julian!”
Comecei a reler este blog e relembrar quem eu era. Senti falta das minhas idéias, do meu modo de viver, da minha inteligência, dos meus hobbies, de escrever, de conversar, de parecer doido, de ser interessante para alguém, de descobrir coisas...
Então aqui vou eu novamente.